A história humana tem sido como que uma só página de indivisíveis sofrimentos e de agonias inenarráveis. Para E. Bersier, o sofrimento é o mais universal, o mais individual, o mais antigo e o mais atual de todos os problemas. A origem do nosso abandono e do nosso cansaço, da nossa fragilidade e de nossa miséria e da morte, reside no momento de incrível fraqueza dos nossos primeiros pais ante o divino, promulgado pelo Criador.
O sofrimento, herança terrível e angustiosa, é, portanto um patrimônio dos séculos passados e o será também deste e dos futuros, até os últimos dias. Zenão, filósofo grego do 3º século a.C., foi o fundador do estoicismo, que pregava a impassibilidade ante o sofrimento. Epícuro, outro filósofo grego do século 4º a.C. mandava seus discípulos esquecerem a dor pelas lembranças dos prazeres passados. E se a dor for mais forte? Pergunta um seguidor. Nesse caso, seria melhor o suicídio. Solução prática, sumária. Já outras escolas e sistemas confessam, com eloqüência o significativo silêncio, sua importância diante do sofrimento humano.
Rubens Lopes, no livro “Ao-Por-Do-Sol”, afirma que o sofrimento fará o homem desequilibrar-se como se lhe fugisse o chão, a não ser que essa força se oponha a outra: a fé. Se o sofrimento puxa para baixo, a fé arrebata para cima, concluiu.
Vinet complementa, dizendo que o infortúnio obscurece o mundo visível; mas abre em nós aquela visão interior com a qual se vê o invisível. Outra vez somos conduzidos ao regaço de Jesus Cristo, que diz: “Vinde a mim todos vós cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Não se turbe o vosso coração: credes em Deus, crede também em mim”.
A experiência humana tem se convertido em vale de lágrimas. Contudo, foi o Varão de dores quem nos visitou para trazer-nos vida e esperança. Uma dor única, incomparável, inexprimível, onde todos, de todas as gerações, podem, saciar a sede e cuja água renova e fertiliza o solo mais árido. Os homens têm sofrido horrores; casamentos infelizes, desajustes familiares, desilusões, aspirações insatisfeitas, doença sem cura, saudades insuportáveis. Verdadeiros estrepes cravados na alma. Porém o aspecto da dor transforma-se sob a cruz, com sua ignomínia e seu horror (cruz que significa escândalo e loucura) em esperança e vitória para os que crêem naquele sofrimento que ultrapassou toda a medida, não havendo outro que se lhe compare.
O sofrimento traz, ao espírito conturbado, a sábia reflexão que, nada há que o dissipe, a não ser Jesus Cristo, o qual, feito homem de carne e osso, sofreu e morreu para que nós, os homens tivéssemos vida.
(EliFernandes de Oliveira, Pastor da Igreja Batista da Liberdade,SP, é Bacharel em Teologia pelo STBNB; Psicanalista Clínico pela SPOB; Mestre em Teologia e Mestre em Ministério pela Faculdade Teológica da Fé Reformada, São Paulo, e Doutor em Teologia Th.D (cum claude) pela Universidade Cohen, Los Angeles, CA.. É escritor de jornais seculares e evangélicos, de revistas para EBD-JUERP, e de artigos para periódicos especializados em Teologia Texto extraído do portal http://www.libernet.org.br, edição de 16/03/2005).