Dois homens caminhavam, lentamente, como quem não espera chegar a lugar algum, alimentados por uma profunda dor – a saudade, e derrotados por outra ainda maior: a decepção.
De repente, o silêncio mórbido foi interrompido pela voz de um outro viajante, em cujo coração a decepção não achara lugar, e a saudade era muito clara: rever velhos amigos, companheiros de três anos de peregrinação, como atalaias da paz, arautos do bem e mensageiros do amor.
Aquele homem, com uma voz estranhamente familiar, quebra o silêncio, como todo amigo que retorna, sem precisar pedir licença, e foi questionando o lado sombrio daquele silêncio denunciador: Por que estás triste?
Esta seria mais uma história qualquer, de alguém que especula, curiosamente, a dor dos outros, sem o interesse real de ajudar, não fora aquele homem, Jesus. Aquela estrada, até então desconhecida, eternizou-se Estrada de Emaús, o caminho onde a saudade e a decepção são vencidas pela presença de quem traz consigo segurança, alegria e paz.
Todos nós encerramos essa “estrada” em nossa vida. São aqueles momentos que nos envolvem intenso sofrimento, convertido em aparente indomável angústia; é a presença da perplexidade, sentimento de abandono e decepções, acompanhado de medo do amanhã.
Em Emaús, a sensação de abandono é intensa, principalmente porque a poeira dos desencontros esconde, dos olhos, o brilho da esperança; e os ventos que sopram em sentido contrário, fazem perder de vista o norte da vida. Caminhar sob lágrimas é, não raro, tropeçar na própria dor, e machucar, cada vez mais, o coração ferido.
Emaús, também, é caminho de redenção; de vitória que surge, quando não há mais horizontes; de esperança concebida nas entranhas da fé. Emaús é o caminho por onde Deus acompanha nossos passos, ouve nosso lamento e pergunta: Por que estás triste?
Ele é o terapeuta que nos escuta com empatia. É o médico que prescreve o remédio que cura; o amigo que conhece os segredos do coração; a paz, em meio a intensa turbulência; voz que quebra o silêncio na caminhada solitária.
A Estrada de Emaús é a exata distância entre a dor e o refrigério que procuramos. Entre o sofrimento e a paz que precisamos; entre nossos temores e a segurança de um amanhã melhor. O que nos importa, mesmo, não são as distâncias que percorramos, mas a certeza de um lugar certo, onde nossos passos se encontrarão com os passos de Deus.
Por que estás triste? Deus não desiste de nós. Quer estar conosco. Gosta de fazer companhia. Quem sabe, está apenas esperando o convite: Fica conosco, Senhor! A partir de então, Emaús passa a ser a estrada da vitória, pavimentada pela esperança, pelo conforto da presença de Deus.
(Texto extraído do portal http://www.pibjp.com.br, edição de 04/03/2008 )
(Estevam Fernandes de Oliveira, Pastor da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, PB, é Psicólogo Clínico e Terapeuta Familiar, conferencista nas áreas de Família e Liderança; mestre e doutorando em Ciências Sociais).